Participantes conversam na 4ª edição do Fórum Internacional de Comunicação de Yunnan, em Kunming, província de Yunnan, sudoeste da China, em 6 de setembro de 2025. (Xinhua/Chen Wei)
O Fórum de Mídia e Think Tanks do Sul Global de 2025, em Kunming, na China, destaca uma verdade essencial e inegável: para que o Sul Global alcance soberania e equidade genuínas no cenário mundial, precisa primeiro fortalecer sua própria infraestrutura intelectual, observou uma especialista do Sri Lanka.
Por Maya Majueran
O Fórum de Mídia e Think Tanks do Sul Global de 2025, em Kunming, China, que acontece de 5 a 9 de setembro, é muito mais do que um simples encontro, é uma poderosa declaração de intenções. Com cerca de 500 jornalistas, acadêmicos, autoridades governamentais e empreendedores de mais de 260 instituições em 110 países e regiões convergindo com uma missão compartilhada, o tema do evento, “Empoderando o Sul Global, Navegando pelas Mudanças Globais”, deixa de ser um slogan e se torna uma agenda tangível.
Esse fórum destaca uma verdade essencial e inegável: para que o Sul Global alcance soberania e equidade genuínas no cenário mundial, precisa primeiro fortalecer sua própria infraestrutura intelectual. O caminho para a autodeterminação é pavimentado com pensamento independente, e os think tanks são os arquitetos essenciais dessa nova estrada.
Durante décadas, as políticas que moldaram os destinos de nações na África, Ásia e América Latina foram frequentemente elaboradas em capitais distantes como Washington e Bruxelas. Esses modelos importados, frequentemente concebidos com uma compreensão limitada das realidades, culturas e dinâmicas sociais complexas locais, têm um longo histórico de fracassos. Os repetidos fracassos de soluções universais apresentam um argumento convincente para uma mudança fundamental. Chegou a hora de o Sul Global finalmente traçar seu próprio rumo, e uma rede robusta de think tanks independentes é essencial para essa missão. Não se trata de isolacionismo, mas de interesse próprio informado.
Considere o flagrante desequilíbrio da governança global. Embora o Sul Global represente mais de 70% da população mundial, sua voz continua um sussurro nos corredores de instituições poderosas como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, cujas estruturas continuam refletindo uma era passada de domínio do Norte. Sem instituições locais fortes para articular e defender seus interesses, o Sul é perpetuamente relegado ao papel de receptor passivo, reagindo a políticas elaboradas em outros lugares para benefício de outros. O fórum de Kunming sinaliza uma virada decisiva nessa dinâmica, demonstrando uma vontade coletiva de falar com a própria voz.
As funções desses think tanks são multifacetadas e vão muito além da pesquisa acadêmica. Seu papel principal é desenvolver conhecimento local para problemas locais. Uma política bem-sucedida na Escandinávia pode fracassar catastroficamente na África Saheliana por ignorar contextos culturais específicos, estruturas de governança tradicionais e condições ambientais. Seja o desafio a segurança alimentar na Nigéria, a infraestrutura urbana na Indonésia ou a inclusão digital na Bolívia, os think tanks nacionais estão em uma posição única para elaborar estratégias específicas para cada contexto, que sejam eficazes e sustentáveis.
Além disso, essas instituições são vitais para embasar políticas nacionais sólidas. Elas servem como ponte essencial entre pesquisas de ponta, ações governamentais e conscientização pública. Ao produzir dados confiáveis e análises rigorosas e independentes, fortalecem a governança e aprimoram a responsabilização democrática. Também desempenham um papel de fiscalização, destacando questões críticas que frequentemente são ignoradas ou negligenciadas nos círculos políticos do Norte, como o impacto humano devastador das sanções econômicas ou as desigualdades profundamente enraizadas nas regras do comércio global.
Além da política, os think tanks são fundamentais para a construção de capacidade local e a reversão da fuga de cérebros prejudicial que há muito tempo assola as economias em desenvolvimento. Ao criar ecossistemas profissionais que empregam, orientam e capacitam jovens pesquisadores, economistas e analistas de políticas, eles oferecem uma alternativa atraente à emigração. Conectam universidades, sociedade civil, mídia e órgãos governamentais em redes vibrantes de conhecimento doméstico que cultivam e retêm a liderança necessária para o futuro.
Essa infraestrutura intelectual também facilita a inestimável cooperação Sul-Sul. O intercâmbio de conhecimento e melhores práticas entre países em desenvolvimento já produziu resultados transformadores, desde a inovação pioneira em serviços bancários móveis no Quênia, o M-Pesa, e soluções semelhantes em Bangladesh e na Índia, até os esforços de integração regional por meio da União Africana, ASEAN e BRICS. Essas iniciativas dependem inteiramente de forte apoio intelectual, os think tanks são os arquitetos dessa colaboração, identificando desafios compartilhados e elaborando soluções mutuamente benéficas.
No cenário internacional, uma voz bem pesquisada é uma voz poderosa. Think tanks amplificam a posição coletiva do Sul Global, equipando seus diplomatas com alternativas baseadas em evidências durante negociações complexas sobre comércio, financiamento climático e segurança. Essa capacidade permite desafiar regras globais estabelecidas e injustas, além de pressionar vigorosamente por regimes mais justos, verdadeira justiça climática e uma forma mais inclusiva de multilateralismo. Um argumento, enraizado em análises rigorosas e apresentado com uma voz unificada, torna-se exponencialmente mais difícil para o mundo ignorar.
Naturalmente, obstáculos severos permanecem. A instabilidade do financiamento ameaça constantemente a independência e a sustentabilidade. A pressão política pode amordaçar a análise crítica, corroendo a credibilidade de uma instituição. A implacável fuga de cérebros continua privando as nações de suas mentes mais brilhantes. E mesmo a pesquisa mais robusta pode não se traduzir em políticas concretas sem canais de influência eficazes.
No entanto, esses desafios não são intransponíveis. Reconhecê-los é o primeiro passo para enfrentá-los. Os think tanks podem proteger sua autonomia diversificando fontes de financiamento, construindo parcerias internacionais resilientes e defendendo firmemente sua liberdade intelectual.
O impulso de Kunming é real. Ao traduzir essa energia em instituições e políticas concretas, o Sul Global não apenas remodelará seu próprio futuro, mas também ajudará a construir um mundo mais forte, justo e equilibrado para todos.
Nota da edição: Maya Majueran atua como diretora da Iniciativa Cinturão e Rota Sri Lanka, uma organização independente e pioneira com ampla experiência em assessoria e apoio à Iniciativa Cinturão e Rota.
As opiniões expressas neste artigo são da autora e não refletem necessariamente as da Agência de Notícias Xinhua.


