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Novo capítulo e mudança de tom marcam estreia de Coventry como presidente do COI

25 de dezembro de 20257 min de leitura
Novo capítulo e mudança de tom marcam estreia de Coventry como presidente do COI

A presidente do Comitê Olímpico Internacional, Kirsty Coventry, discursa na cerimônia de acendimento da pira olímpica dos Jogos Olímpicos de Inverno de Milão-Cortina 2026, no Palácio Quirinale, em Roma, Itália, em 5 de dezembro de 2025. (Xinhua/Li Jing)

A ascensão histórica de Kirsty Coventry como a primeira mulher e africana a presidir o COI inaugurou um estilo de liderança focado na escuta e na reforma, que visa modernizar o Movimento Olímpico, ao mesmo tempo que protege seus valores fundamentais.

Beijing, 23 dez (Xinhua) -- O ano de 2025 foi um ponto de virada para o Comitê Olímpico Internacional (COI), com a eleição de Kirsty Coventry, sete vezes medalhista olímpica de natação do Zimbábue, para o cargo de 10ª presidente do COI.

O que aconteceu nos meses seguintes não foi uma enxurrada de declarações ousadas, mas sim uma recalibração ponderada de como o COI ouve, decide e avança.

Sua vitória histórica em 20 de março em Costa Navarino, Grécia, quebrou um precedente de 131 anos, tornando-a a primeira mulher e a primeira africana a liderar o Movimento Olímpico global.

Eleita com 49 votos no primeiro turno, a ascensão de Coventry foi vista como símbolo da evolução dos valores que ela agora defende. O presidente cessante, Thomas Bach, elogiou a eleição como uma demonstração de união, observando que estava "muito aliviado" ao ver os membros do COI se unirem em torno de Coventry.

A própria Coventry refletiu sobre a importância do momento, dizendo: "Um momento extraordinário. Quando tinha 9 anos, jamais imaginei que um dia estaria aqui, retribuindo a este nosso incrível movimento".

"Não consigo acreditar que, em 1992, quando sonhava em ir aos Jogos Olímpicos e ganhar uma medalha de ouro para o Zimbábue, estaria aqui com todos vocês, realizando esses sonhos para mais jovens ao redor do mundo", disse ela em seu primeiro discurso como presidente do COI, definindo sua missão em torno da inspiração e da acessibilidade.

Enquanto alguns previam a continuidade das políticas de Bach, Coventry iniciou uma fase de "Pausa e Reflexão" ao assumir oficialmente o cargo em 23 de junho, promovendo uma oficina de vários dias com membros do COI. A mensagem era clara: antes de definir um novo rumo, Coventry queria compreender as correntes subjacentes.

Thomas Bach (direita) convida Kirsty Coventry a discursar após sua eleição como a 10ª presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) durante a 144ª sessão do COI em Costa Navarino, Grécia, em 20 de março de 2025. (Xinhua/Cao Can)

"A forma de construir uma equipe de sucesso é garantir que todos sintam que têm sucesso individualmente. Grande parte desse processo envolve ouvir e, em seguida, obter contribuições coletivas de todos", explicou Coventry sobre a decisão da fase de "Pausa e Reflexão" durante uma entrevista à Xinhua em novembro.

Esse período de consulta se transformou em reformas estruturais concretas em setembro, sob a iniciativa "Preparados para o Futuro". Coventry anunciou a criação de quatro grupos de trabalho dedicados, uma medida clara para abordar desafios sistêmicos.

Esses grupos se concentram nos Jogos Olímpicos da Juventude, no programa olímpico, em parcerias comerciais e marketing, e na questão altamente sensível da proteção da categoria feminina. Sobre essa última, Coventry adotou uma postura deliberada e baseada na ciência em meio ao debate global.

"Criamos um grupo de trabalho para analisar a proteção da categoria feminina", esclareceu ela por meio da agência Xinhua. "Trata-se de uma discussão científica e baseada em evidências médicas. Algumas pessoas podem estar se precipitando. Precisamos permitir que os especialistas concluam seu trabalho".

Outra decisão importante tomada no início do processo foi a suspensão do processo de eleição da sede para os Jogos futuros, com a criação de um grupo de trabalho para revisar o cronograma e o engajamento dos participantes.

"Os participantes querem se envolver mais no processo", observou Coventry. Essa iniciativa abre caminho para abandonar o cronograma fixo de longo prazo que definiu eleições recentes para sede, como Los Angeles 2028 e Brisbane 2032.

Sua disposição em reavaliar compromissos importantes foi ainda mais demonstrada pela decisão do COI de encerrar sua parceria com a Arábia Saudita para os Jogos Olímpicos de Esports inaugurais. Coventry apresentou essa decisão não como um recuo, mas como uma governança responsável.

A presidente do Comitê Olímpico Internacional, Kirsty Coventry, apresentou seu plano de reformas, pedindo por introspecção e colaboração através de uma fase de "Pausa e Reflexão" e criando grupos de trabalho para abordar as questões, em entrevista exclusiva à Xinhua. (Xinhua/Xiao Yazhuo)

"Concordamos em conjunto que precisávamos reavaliar muitas coisas", explicou ela. "Há uma enorme oportunidade, mas havia dúvidas sobre como a implementaríamos e como seria. Precisamos ser transparentes, pois estamos em um território desconhecido".

Essa mudança refletiu um princípio que ela defendeu durante sua campanha: adaptar-se às tendências modernas sem comprometer os valores fundamentais. "Devemos continuar inovando sem comprometer esses princípios", disse ela no início de março.

Os laços de Coventry com a China foram um foco durante seus primeiros meses no cargo. Sua visita em novembro, que incluiu a participação nos Jogos Nacionais da China, serviu tanto como um retorno ao país onde conquistou uma medalha de ouro, três de prata e estabeleceu dois recordes mundiais nas Olimpíadas de 2008, quanto como uma oportunidade de se conectar com um importante parceiro olímpico.

"Sempre que falo sobre Beijing 2008, abro um sorriso enorme", observou ela. "Ganhei muito lá".

Durante a viagem, ela se reuniu com os patrocinadores chineses do programa TOP, Alibaba, TCL e Mengniu, reforçando os laços comerciais.

"Todos eles falaram sobre valores que se alinham muito com o que o Movimento Olímpico representa", disse ela, prometendo fortalecer a colaboração para que "as melhores práticas possam ser compartilhadas com o resto do mundo".

A presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Kirsty Coventry, discursa na cerimônia de acendimento da pira olímpica dos Jogos Olímpicos de Inverno de Milão-Cortina 2026, na antiga Olímpia, Grécia. 26 de novembro de 2025. (Xinhua/Li Jing)

O primeiro grande teste de sua administração está iminente com os Jogos Olímpicos de Inverno de Milão-Cortina 2026, a menos de dois meses de distância. Os Jogos têm desafios logísticos devido à sua natureza geograficamente dispersa, mas Coventry declarou seu compromisso de participar dos eventos em todas as localidades.

"Faremos o melhor e acho que, neste momento, considerando o programa e a agenda em que nos encontramos, sim, esse é o plano", disse ela à agência americana de notícias Associated Press no início de dezembro.

Além da logística, ela enfrentou o desafio persistente de proteger a neutralidade do Movimento Olímpico em um cenário geopolítico fragmentado, um princípio que defendeu veementemente como candidata.

A posição de sua administração foi colocada à prova definitiva com a questão dos atletas da Rússia e da Bielorrússia. Em setembro, o COI confirmou que eles seriam autorizados a competir em Milão-Cortina 2026 como Atletas Neutros Individuais (ANI), sob as mesmas condições que os demais atletas. para Paris 2024.

"Isso não será novidade. Nada mudou", disse Coventry. A medida reflete diretamente sua ênfase anterior de que "é essencial que o COI mantenha sua neutralidade e garanta que a política não interfira nas oportunidades dos atletas de competir".

As primeiras ações de Coventry, incluindo reformas estruturais e parcerias revisadas, parecem focadas na renovação da instituição, enfatizando seus valores fundadores. À medida que o mundo volta seus olhos para Milão-Cortina, sua liderança passará da fase de planejamento para os holofotes globais, pronta para seu primeiro exame em escala olímpica.