Em entrevista concedida à agência Xinhua, Rana Mitter, renomado historiador e professor de relações EUA-Ásia na Harvard Kennedy School, destacou a significativa contribuição da China durante a Segunda Guerra Mundial, enfatizando a necessidade de intensificar a pesquisa histórica sobre o tema. Mitter, que também já foi diretor do University of Oxford China Centre, ressaltou que a resistência chinesa foi crucial para conter o avanço japonês e influenciou o curso da guerra global.
O acadêmico relembra o Incidente de 7 de julho de 1937, quando tropas japonesas atacaram a guarnição chinesa na Ponte Lugou, hoje localizada no distrito de Fengtai, Pequim, sob o pretexto de buscar um soldado japonês desaparecido. "Na época, a posição da China parecia muito, muito ruim," afirmou Mitter. "A maioria dos observadores externos acreditava que a chance de vitória da China era muito baixa. No entanto, a China resistiu, e o fato de ter resistido, eu acho, mudou tudo."
Apesar de enfrentar desvantagens tecnológicas e condições adversas, a resistência persistente da China foi fundamental para atrasar as forças japonesas, forçando milhões de soldados japoneses a permanecerem no continente em vez de serem realocados para outras áreas da região Ásia-Pacífico. "É um lembrete de que a contribuição da China, naquele momento inicial, para permanecer na guerra, foi uma parte muito importante do que se tornou uma guerra global," destacou o historiador, autor do livro "Forgotten Ally: China's World War II, 1937-1945."
Mitter também chamou a atenção para a influência duradoura de "Sobre a Guerra Prolongada," tratado de Mao Zedong de 1938, que defendia uma guerra popular prolongada para combater a estratégia de vitória rápida do Japão. "Ainda hoje, é lido por estudantes em academias militares e seminários de história ao redor do mundo, não apenas na China," disse Mitter.
O historiador observou que, embora alguns livros sobre o papel da China na guerra tenham sido publicados no Ocidente, "precisamos de mais desses livros." Ele enfatizou a importância de incentivar mais pesquisas históricas para iluminar a contribuição da China na guerra. "É um lembrete de que a guerra nunca deve ser subestimada, pois deve ser entendida como um dos fenômenos mais devastadores da existência humana. Devemos usar a história para compreender como trazer a paz de maneira duradoura, justa e apropriada," afirmou.
Sobre as relações EUA-China, Mitter comentou: "O que vimos nas últimas semanas e meses mostra que os Estados Unidos e a China são capazes de ter discussões bastante maduras e sensatas." Reconhecendo as diferenças entre as sociedades e aspirações dos dois países, Mitter expressou esperança de que "lembrar alguma parte daquela história compartilhada -- a história da Segunda Guerra Mundial, quando a China e os Estados Unidos lutaram juntos contra forças muito sombrias -- poderia ser parte de um entendimento mais amplo mesmo hoje."