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Destaque: De Xi'an a Roma a pé -- A jornada de um homem pela moderna Rota da Seda

26 de outubro de 20256 min de leitura
Destaque: De Xi'an a Roma a pé -- A jornada de um homem pela moderna Rota da Seda

O viajante chinês Cheng Long visita o Monte Palatino em Roma, Itália, em 19 de outubro de 2025. (Xinhua/Ren Yaoting)

Por Ren Yaoting

Roma, 24 out (Xinhua) -- Sob o sol de outono, Cheng Long, 34 anos, estava diante do Coliseu em Roma, Itália, com uma mochila desgastada aos seus pés. Usando uma simples camiseta azul, com a pele bronzeada e o cabelo despenteado pelo vento, ele parecia um verdadeiro viajante itinerante, e o ponto final de uma caminhada de dois anos que começou em Xi'an, na China, e percorreu os ecos modernos da antiga Rota da Seda através da Eurásia.

"Tentei encontrar palavras bonitas, mas nenhuma se encaixava", disse Cheng à sua audiência na transmissão ao vivo ao chegar a Roma. Durante duas horas, ele chorou diante da câmera, enquanto o cansaço, o alívio e o orgulho se misturavam.

UM SONHO DE INFÂNCIA EM PRÁTICA

Ele não partiu despreparado. Cheng corria meias maratonas várias vezes por semana para ganhar resistência e treinava regularmente nas montanhas Qinling. Aos 23 anos, completou uma caminhada de três meses ao longo da rota de mais de 2.000 km de Sichuan até a Região Autônoma do Tibete. Diante do Palácio de Potala em Lhasa, ele sentiu que outro limite, ainda maior, precisava ser testado. A vida entre empregos, trabalho administrativo, vendas de equipamentos para atividades ao ar livre, projetos de engenharia esporádicos, permitiu que ele economizasse, mas foi uma reflexão pessoal que finalmente o impulsionou a partir. Depois de quase um ano cuidando de sua mãe gravemente doente, Cheng começou a se perguntar se a vida deveria ser medida por sua duração ou por seu significado.

Na primavera de 2023, com a saúde de sua mãe estabilizada, ele vendeu seu carro, arrumou algumas mudas de roupa, um pouco de dinheiro, uma bandeira nacional e seu telefone, e partiu aos 33 anos.

Ele chamou sua conta no TikTok de "Dragon Walker" ("Andarilho Dragão", em tradução livre). Quando começou, tinha cerca de 8.000 seguidores nas redes sociais chinesas. Quando chegou a Roma, esse número já era quase 300.000.

ESTRADA E DESAFIOS

A rota de Cheng o levou de Xi'an, passando pelo Porto de Horgos, na Região Autônoma Uigur de Xinjiang, no noroeste da China, para o Cazaquistão e as repúblicas da Ásia Central, atravessando o Cáucaso e a Turquia, e seguindo para a Grécia e finalmente para a Itália. Ele percorreu mais de 10.000 km, enfrentando desertos e montanhas onde as temperaturas variavam do calor escaldante ao frio congelante.

A estrada deixou suas marcas. Ele gastou 19 pares de sapatos, rasgou duas mochilas e viu um carrinho improvisado desmoronar mais de uma vez. Bolhas se transformaram em calos, e uma lesão no menisco do joelho esquerdo quase acabou com a jornada.

Houve momentos de verdadeiro perigo. No Cazaquistão, ele desmaiou devido ao calor de 50 graus e acordou em uma clínica de uma pequena cidade, sendo cuidado por estranhos. "Esse foi o momento em que cheguei mais perto da morte", lembrou ele.

O dinheiro era uma preocupação constante. Conforme suas economias diminuíam e os custos aumentavam na Europa, ele recorreu à sua crescente audiência on-line, transmitindo trechos de sua jornada ao vivo e aceitando pequenas doações. Em áreas remotas, a internet instável dificultava as transmissões, e às vezes algumas mensagens de incentivo faziam a diferença entre comer ou passar fome. "No início, não quis aceitar dinheiro", disse ele suavemente. "Mas quando você precisa continuar em movimento, você aceita ajuda. Eu não teria conseguido terminar sem essa ajuda".

Ele aprendeu a se adaptar: a cuidar da saúde, a manter a higiene, a tratar ferimentos e a descansar quando a fadiga exigia. Ele improvisava constantemente. Quando não conseguia seguir sozinho, estranhos ofereciam abrigo, comida ou uma carona.

Na Itália, depois de uma noite sem ter onde ficar, um açougueiro local permitiu que ele acampasse no quintal da família e, na manhã seguinte, deu café e carne seca a ele, uma pequena gentileza que ficou gravada em sua memória.

O QUE A ESTRADA REVELA

A caminhada de Cheng foi mais do que uma provação pessoal: foi uma jornada pela geografia viva de uma Rota da Seda reconstruída. Ao longo do caminho, ele viu novas infraestruturas, carros fabricados na China em cidades da Ásia Central e o comércio digital chegando a lugares inesperados.

Onde antes as caravanas transportavam seda e especiarias, hoje rodovias, ferrovias e cabos de fibra óptica conectam o Oriente e o Ocidente. "A Rota da Seda que percorri desta vez é muito diferente da que aprendi quando criança, agora ela é feita de aço e fibra, mas o espírito de intercâmbio humano continua", disse ele.

Um de seus vídeos mais assistidos mostrava uma equipe chinesa construindo uma estrada na Geórgia. Ver compatriotas no exterior o encheu de orgulho e de uma sensação de quão rápido a Eurásia estava mudando. Ele guardava um pequeno mapa da China.

Ele carregava uma bandeira em sua mochila, desdobrando-a para tirar fotos em cada país, um ritual que, segundo ele, mantinha viva a ligação com sua casa conforme os quilômetros aumentavam.

O que mais o comoveu, porém, foi a bondade humana. Idiomas e crenças eram diferentes, mas a hospitalidade não. Médicos do deserto, agricultores, comerciantes e transeuntes ofereciam comida, abrigo ou ajuda. Atos simples muitas vezes determinavam se ele conseguiria continuar no dia seguinte. "A bondade é uma linguagem universal", refletiu ele.

Muitos de seus seguidores dizem que a jornada de Cheng mudou a maneira como eles veem seus próprios sonhos, mostrando que o começo é mais importante do que a expectativa. Cheng planeja voar para casa para um breve descanso antes de partir novamente de carro para revisitar quem o ajudou e registrar suas histórias.

Ele disse que sua jornada mostra que, mesmo no século 21, a Rota da Seda ainda conecta as pessoas, por meio de caminhos compartilhados, trabalho conjunto e compaixão mútua. "O importante", disse ele aos seus seguidores, "não é esperar pelo momento perfeito. Dê o primeiro passo".

O viajante chinês Cheng Long caminha em frente ao Coliseu em Roma, Itália, em 19 de outubro de 2025. (Xinhua/Ren Yaoting)