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Comunidade internacional repreende Japão por ameaçar ordem pós-guerra

28 de novembro de 20257 min de leitura
Comunidade internacional repreende Japão por ameaçar ordem pós-guerra

* "Taiwan tem sido parte inseparável da China desde os tempos antigos, e os documentos do Cairo e de Potsdam deixam isso inequivocamente claro", disse Zhu Haian, presidente da filial belga do Conselho Chinês para a Promoção da Reunificação Nacional Pacífica.

* "Sabemos, lamentavelmente, como terminou o militarismo japonês, os sacrifícios que custou ao mundo inteiro e ao próprio Japão", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova. "Portanto, os políticos que vierem governar o país no Japão devem se lembrar disso e entender as consequências de declarações irresponsáveis, e abster-se delas".

* O presidente da Assembleia Nacional da Coreia do Sul, Woo Won-shik, disse na rede social X que as ações de Takaichi revelam a "atitude irresponsável" do Japão e a falta de reflexão histórica, alertando que a pressão para emendar a Constituição é "ainda mais preocupante", pois "transformaria o Japão em um ‘país capaz de travar guerras’".

Beijing, 26 nov (Xinhua) -- Há 82 anos, em um hotel próximo às pirâmides de Gizé, nos arredores do Cairo, os líderes da China, dos Estados Unidos e do Reino Unido assinaram a Declaração do Cairo, estabelecendo não apenas um consenso entre os Aliados, mas também uma base legal para a ordem pós-guerra que se seguiu à rendição do Japão.

Essa história ganhou nova urgência esta semana. Na semana passada, o Ministério das Relações Exteriores da China invocou repetidamente a Declaração do Cairo para refutar comentários da primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, cujas recentes declarações equivocadas sobre Taiwan, juntamente com os planos de Tóquio de expandir suas capacidades militares, atraíram duras críticas.

Observadores disseram que as declarações de Takaichi cruzam uma "linha vermelha histórica" ​​estabelecida na década de 1940, um desafio aos documentos que moldaram o acordo pós-guerra na Ásia e que permanecem consagrados no direito internacional.

"Um princípio fundamental do direito internacional é o respeito à soberania e à integridade territorial de um país", disse Wang Lei, vice-presidente da Associação de Direito Constitucional da Sociedade de Direito da China, acrescentando que as declarações de Takaichi violam flagrantemente esse princípio, interferindo na soberania nacional da China.

Foto de arquivo tirada em 9 de setembro de 1945 mostra He Yingqin (esquerda), representante do governo chinês, recebendo a rendição do Japão em Nanjing, leste da China. (Xinhua)(zkr)

UMA LINHA TRAÇADA HÁ MUITO TEMPO

Divulgada em 1º de dezembro de 1943, a Declaração do Cairo afirmou que os territórios que o Japão havia tomado da China, incluindo Taiwan e as Ilhas Penghu, seriam devolvidos à China após a guerra.

A declaração foi reforçada dois anos depois pela Proclamação de Potsdam, emitida pela China, pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido e posteriormente endossada pela União Soviética. O Japão aceitou esses termos ao assinar o Instrumento de Rendição em setembro de 1945, comprometendo-se a cumprir as obrigações estabelecidas nos termos de Potsdam.

Juntos, esses documentos formaram a base jurídica internacional para a recuperação, pela China, dos territórios tomados pelo Japão e, de forma mais ampla, foram vistos como elementos essenciais da ordem pós-guerra na região Ásia-Pacífico.

"Taiwan tem sido parte inseparável da China desde os tempos antigos, e os documentos do Cairo e de Potsdam deixam isso inequivocamente claro", disse Zhu Haian, presidente da filial belga do Conselho Chinês para a Promoção da Reunificação Nacional Pacífica.

O princípio de que Taiwan faz parte da China fundamentou outro momento histórico décadas depois. A Assembleia Geral das Nações Unidas votou por ampla maioria, em 1971, pela adoção da Resolução 2758, uma decisão histórica que reafirmou o claro compromisso da comunidade internacional com o princípio de Uma Só China.

Rodolfo Sanz, vice-presidente do Grupo Parlamentar de Amizade China-Venezuela na Assembleia Nacional da Venezuela, disse que a Declaração do Cairo deixa claro que Taiwan é parte inseparável da China, o que representa uma linha vermelha histórica que não pode ser cruzada.

DESAFIO ABERTO

Analistas alertaram que, ao vincular uma "situação de ameaça à sobrevivência" para o Japão à questão de Taiwan, insinuando uma possível intervenção militar japonesa no Estreito de Taiwan, Takaichi está desafiando abertamente o princípio de Uma Só China, consolidado em documentos jurídicos internacionais como a Declaração do Cairo.

Além de exigir que o Japão devolva os territórios que roubou da China, a Declaração do Cairo, a Proclamação de Potsdam e outros documentos vinculativos ressaltaram a conduta agressiva do Japão durante a guerra e impuseram obrigações claras ao Estado derrotado, incluindo o desarmamento completo e a proibição de indústrias que possam financiar o rearme.

No entanto, políticos de direita do Japão têm minado essas restrições nos últimos anos, corroendo os limites militares e contornando a política constitucional exclusivamente voltada para a defesa. Takaichi acelerou o processo, com intenção de revisar tanto os Três Princípios sobre Transferência de Equipamentos e Tecnologia de Defesa quanto os Três Princípios Não Nucleares.

As declarações "ultrajantes" de Takaichi "desconsideram as práticas diplomáticas e violam flagrantemente o direito internacional", disse Kwon Ki-sik, chefe da Associação de Amizade entre Cidades Coreia-China, à agência Xinhua em entrevista recente.

"O Japão não tem o direito de interferir nos assuntos internos da China, e nenhum direito de abalar o princípio de Uma Só China... Foi um ato desprezível que trai a confiança diplomática", disse Kwon.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que "Oitenta anos se passaram e o Japão ainda se recusa a reconhecer os resultados da Segunda Guerra Mundial, conforme consagrado no direito internacional".

"Sabemos, lamentavelmente, como terminou o militarismo japonês, os sacrifícios que custou ao mundo inteiro e ao próprio Japão", disse ela. "Portanto, os políticos que vierem governar o país no Japão devem se lembrar disso e entender as consequências de declarações irresponsáveis, e abster-se delas."

Pessoas participam de protesto em frente à residência oficial da primeira-ministra japonesa em Tóquio, Japão, em 21 de novembro de 2025. (Xinhua/Jia Haocheng)

REAÇÃO CRESCENTE

Centenas de japoneses protestaram em frente à residência oficial da primeira-ministra em Tóquio, na sexta-feira, exigindo que Takaichi se retratasse de suas recentes declarações equivocadas sobre Taiwan, desse uma explicação e um pedido de desculpas.

Os manifestantes pediram o fim do ressurgimento do militarismo no Japão, exibindo cartazes com slogans como "Retrate suas declarações, oponha-se à guerra", "Tudo isso é culpa de Takaichi" e "Takaichi renuncie".

Enquanto isso, observadores alertam que as ações provocativas de Takaichi afrontam a justiça internacional e violam princípios fundamentais das relações internacionais.

Yuki Izumikawa, pesquisadora da Universidade de Okinawa, advertiu que as declarações "extremamente prejudiciais" de Takaichi representam um risco sério para os densos laços econômicos e culturais que sustentam as relações Japão-China.

O presidente da Assembleia Nacional da Coreia do Sul, Woo Won-shik, disse na rede social X que as ações de Takaichi revelam a "atitude irresponsável" do Japão e a falta de reflexão histórica, alertando que a pressão para emendar a Constituição é "ainda mais preocupante", pois "transformaria o Japão em um país capaz de travar guerras’".

Richard A. Black, representante do Instituto Schiller nas Nações Unidas em Nova York, disse que as últimas ações de Takaichi são "muito perigosas", destacando seu longo histórico de visitas ao notório Santuário Yasukuni, um instrumento espiritual e símbolo dos militaristas japoneses responsáveis ​​pela guerra de agressão, e sua minimização dos crimes de guerra do Japão.

"Portanto, a China tem razão em estar irritada, em estar chateada e em tomar medidas enérgicas para impedir que isso avance", disse Black.

(Repórteres de vídeo: Chen Wangqi, Wang Zongnan, Kan Jingwen, Xiong Maoling, Zhao Jiasong, Zhang Duo, Chen Yi, Liu Shengji, Yang Chang, Meng Jing, Chen Jiyan, Wang Qian e You Zhixin; edição de vídeo: Zhang Yichi e Zhu Cong)