Bandeiras da União Europeia em frente ao Edifício Berlaymont, sede da Comissão Europeia, em Bruxelas, Bélgica, 29 de janeiro de 2025. (Xinhua/Meng Dingbo)
Em 2025, a vulnerabilidade estratégica da Europa foi exposta pelas tensas relações transatlânticas sob o "Trump 2.0", pelo prolongado conflito na Ucrânia, pela paralisia interna da UE e pela exclusão de processos diplomáticos importantes. Além disso, a fraca capacidade da Europa de agir coletivamente tornou seus objetivos de rearme, competitividade e autonomia estratégica cada vez mais difíceis de alcançar.
Bruxelas, 17 dez (Xinhua) -- A vulnerabilidade estratégica da Europa ficou extremamente nítida em 2025, com a convergência de três crises: uma mudança disruptiva nas relações transatlânticas sob o governo "Trump 2.0", a crescente insegurança decorrente do prolongado conflito entre Rússia e Ucrânia e a persistente paralisia da governança dentro da UE, que repetidamente obstruiu a ação coletiva.
Em um ambiente global em rápida transformação, uma Europa internamente dividida, sem consenso, vontade política e capacidade operacional, enfrenta pressões crescentes. As perspectivas para restaurar a competitividade econômica ou alcançar um rearmamento abrangente continuam sombrias.

O chefe de comércio da UE, Maros Sefcovic, participa de coletiva de imprensa conjunta em Bruxelas, Bélgica, em 14 de julho de 2025. (Xinhua/Peng Ziyang)
MUDANÇA NA ALIANÇA TRANSATLÂNTICA
A posse do novo governo Trump pôs fim à "lua de mel" da cooperação entre EUA e Europa. Quase imediatamente, Washington reformulou as relações transatlânticas em torno de uma doutrina intransigente de "América Primeiro". A Europa foi confrontada com várias exigências unilaterais dos EUA: ameaças abrangentes de tarifas, retomada das discussões sobre a "compra da Groenlândia", pressão para aumentar drasticamente os gastos com defesa e o uso de tarifas sobre aço e alumínio para coagir a UE a flexibilizar as regulamentações digitais.
A Estratégia de Segurança Nacional (ESN) dos EUA, de dezembro de 2025, solidificou essa cisão ideológica. O documento alertava para o suposto "apagamento civilizacional" da Europa devido às baixas taxas de natalidade e à migração, acusava a UE de minar a "liberdade política e a soberania" e questionava a confiabilidade de alguns aliados europeus. Notavelmente, afirmava que os Estados Unidos pretendiam "ajudar a Europa a corrigir sua atual trajetória de desenvolvimento", uma declaração interpretada pela mídia europeia como uma licença para interferir nas eleições da UE e na política interna.

O presidente dos EUA, Donald Trump, participa de coletiva de imprensa após cúpula da OTAN em Haia, Holanda, em 25 de junho de 2025. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
A decisão mais consequente foi a de Washington reduzir seus compromissos de segurança com a Europa. Na Cúpula da OTAN em Haia, os Estados-membros da UE, apesar da alta dívida e da pressão fiscal, foram pressionados a se comprometerem a aumentar os gastos com defesa para 5% do PIB até 2035. O governo Trump suspendeu o apoio militar integral a Kiev e exigiu que os países europeus financiassem a ajuda dos EUA. Os europeus ficaram ainda mais chocados com o aparente favoritismo de Trump em relação à Rússia durante as negociações de paz, nas quais a Europa foi visivelmente marginalizada.
Temendo antagonizar Washington enquanto enfrentava uma Rússia cada vez mais assertiva, a Europa mostrou sinais do que observadores descreveram como "autovassalagem". A UE fez concessões abrangentes nas negociações comerciais, resultando em um acordo que a vice-presidente do Parlamento Europeu, Kathleen Van Brempt, denunciou como "nem justo nem equilibrado". "Com a administração dos EUA assumindo cada vez mais o papel de mediadora pouco confiável em detrimento de um aliado fiel, a Europa está em uma posição precária", disse o comentarista político britânico John Kampfner.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer (2º à esquerda), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky (2º à direita), o presidente francês, Emmanuel Macron (1º à direita), e o chanceler alemão, Friedrich Merz, conversam durante reunião em Downing Street, nº 10, em Londres, Reino Unido, em 8 de dezembro de 2025. (Lauren Hurley/Downing Street, nº 10/Divulgação via Xinhua)
FADIGA E DILEMA ESTRATÉGICO EM RELAÇÃO À UCRÂNIA
Conforme o conflito entre Rússia e Ucrânia se arrasta pelo quarto ano, as esperanças de um cessar-fogo continuam distantes, aumentando a sensação de impotência estratégica da Europa. A forte redução das exportações de gás russo afetou duramente as economias europeias, enquanto os compromissos de ajuda maciça à Ucrânia sobrecarregavam tanto os recursos financeiros quanto os arsenais militares.
A Europa enfrenta um péssimo dilema: a continuidade da ajuda esgota os arsenais já debilitados e amplia os déficits fiscais; a suspensão da ajuda acarreta o risco de um colapso geopolítico. Com a previsão de que o financiamento para a Ucrânia se esgote no início de 2026, os sinais de fadiga dos doadores ficaram evidentes. Segundo o Instituto de Kiel, os compromissos militares europeus durante o verão de 2025 caíram 57% em comparação com o primeiro semestre do ano.
Dezenove rodadas de sanções da UE contra a Rússia produziram resultados limitados, ao mesmo tempo que geraram fortes atritos internos. A Hungria e a Eslováquia desafiaram repetidamente a política do bloco em relação à Rússia, minando a unidade que a UE vem tentando manter. Apesar da retórica política contínua em apoio à Ucrânia, as expectativas sobre o desfecho da guerra mudaram. Um relatório de novembro do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI) concluiu que, embora a Rússia enfrente estagflação, sua capacidade de sustentar operações militares permanece intacta.
Embora a França, a Alemanha e o Reino Unido tenham liderado as "Coalizões dos Dispostos", reconheceram que, sem o apoio aéreo e de inteligência dos EUA, a Europa não conseguiria garantir a segurança da Ucrânia após o cessar-fogo.

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, discursa na sessão de outono do Parlamento húngaro em Budapeste, Hungria, em 22 de setembro de 2025. (Foto por Attila Volgyi/Xinhua)
FRATURA E DÉFICIT DE AÇÃO
Uma onda de movimentos de extrema-direita em toda a Europa remodelou o cenário político em 2025, intensificando as tensões sobre o modelo de governança da UE baseado na cooperação supranacional e no compromisso. Um relatório da Fundação Konrad Adenauer destacou "déficits estruturais" na formulação da política externa e de segurança da UE. Iniciativas essenciais, desde pacotes de ajuda à Ucrânia até sanções, foram prejudicadas por vetos de países como a Hungria.
A proposta da Comissão Europeia de usar ativos russos congelados para apoiar a Ucrânia encontrou forte resistência da Bélgica, sede da gigante de compensação Euroclear, que teria uma significativa exposição financeira e jurídica.
Em nível nacional, os dois pilares tradicionais da Europa, da França e da Alemanha, sofreram com instabilidade política, paralisia política, pressões orçamentárias e crescimento econômico lento. Essa erosão da liderança enfraqueceu a coesão estratégica geral da UE. "Diante da guerra na Ucrânia e de uma América menos confiável, a Europa precisa de uma parceria franco-alemã plenamente funcional para sustentar uma política externa coerente", observou Paul Maurice, pesquisador do IFRI.
Em seu discurso sobre o Estado da União, em setembro de 2025, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, admitiu que "a independência da Europa depende de sua capacidade de se manter competitiva em tempos voláteis". Ela prometeu grandes investimentos em tecnologias digitais e limpas, ao mesmo tempo em que abordava as lacunas nos setores de energia, capital e regulamentação.
Com 2026 chegando, espera-se que as iniciativas de rearme da Europa se acelerem, mas as reformas de competitividade a longo prazo provavelmente continuarão lentas e fragmentadas. Com as relações transatlânticas passando por um realinhamento drástico e limitadas tanto por restrições estruturais quanto por divisões políticas, a busca da UE por uma verdadeira "autonomia estratégica" continua distante.


