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Por que mais países europeus estão reconhecendo a Palestina? O que vem a seguir?

27 de setembro de 20255 min de leitura
Por que mais países europeus estão reconhecendo a Palestina? O que vem a seguir?

Estudantes participam de protesto pró-Palestina em Roma, Itália, em 22 de setembro de 2025. (Xinhua/Li Jing)

Até o momento, mais de 150 Estados-membros da ONU reconheceram a Palestina.

Bruxelas, 23 set (Xinhua) -- Mais cinco países europeus anunciaram o reconhecimento do Estado Palestino na segunda-feira, durante a sessão de alto nível da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU). Resumimos o que você precisa saber sobre os últimos acontecimentos.

QUEM RECÉM-RECONHECEU A PALESTINA?

A França, que copresidiu a reunião de alto nível em apoio à solução de dois Estados na ONU, tornou-se o mais recente grande país europeu a reconhecer formalmente a Palestina, cumprindo um compromisso firmado nos últimos meses.

Em seu discurso na ONU, o presidente francês Emmanuel Macron afirmou: "Chegou a hora da paz. Devemos fazer o possível para preservar a própria possibilidade de uma solução de dois Estados".

Bélgica, Luxemburgo, Malta e Mônaco também anunciaram seu reconhecimento da Palestina na reunião.

Antes da reunião de alto nível da ONU, Reino Unido e Portugal, juntamente com Austrália e Canadá, reconheceram a Palestina no domingo.

Até o momento, mais de 150 Estados-membros da ONU reconheceram a Palestina.

Bandeira palestina é vista no portão da Missão Palestina em Londres, Reino Unido, 22 de setembro de 2025. (Xinhua/Zhao Jiasong)

POR QUE MAIS PAÍSES EUROPEUS?

Acredita-se que as contínuas ações militares de Israel em Gaza, a deterioração da situação humanitária e a escalada da violência por parte de colonos na Cisjordânia sejam os principais motivadores para que mais países europeus reconheçam a Palestina.

Faruk Boric, analista político de Sarajevo, disse à Xinhua que o sofrimento prolongado de civis em Gaza deixou uma impressão amarga, e a hesitação dos países ocidentais em agir minou sua capacidade de reivindicar valores universais e autoridade moral.

O clamor público contra as ações militares de Israel abalou o clima político em grandes países europeus, como Reino Unido e França, onde protestos em larga escala têm sido realizados regularmente nos últimos meses.

O historiador francês Thomas Maineult disse à mídia que a catástrofe humanitária acelerou as decisões dos líderes em resposta ao seu povo.

Enquanto isso, de acordo com analistas franceses, o reconhecimento da Palestina também reflete a busca da Europa por "autonomia estratégica", um princípio que tem sido consistentemente promovido tanto na UE quanto na OTAN pelos principais países europeus.

Especialistas militares veem o reconhecimento como um sinal de que países como a França buscam se reposicionar como mediadores políticos e militares na reformulação do Oriente Médio.

Membros da delegação palestina aplaudem durante a Conferência Internacional de Alto Nível para a Solução Pacífica da Questão da Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados, na sede da ONU em Nova York, em 22 de setembro de 2025. (Xinhua/Li Rui)

COMO ISRAEL REAGIU?

O representante-permanente de Israel na ONU, Danny Danon, alertou que Israel continuaria com suas operações militares. "Eles não estão promovendo a paz. Estão apoiando o terrorismo", disse ele.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enviou no domingo uma mensagem contundente em resposta aos reconhecimentos do Reino Unido, da Austrália e do Canadá, dizendo: "Isso não vai acontecer. Não haverá um Estado Palestino a oeste do Jordão".

Netanyahu deve discursar na sexta-feira na ONU e afirmou que mais respostas à nova rodada de ações diplomáticas serão anunciadas após seu retorno a Israel.

De acordo com o site de notícias Politico, Israel provavelmente se concentrará na construção de mais assentamentos e na expansão de áreas de controle militar na Cisjordânia. Alguns ministros de Netanyahu também pedem a anexação total da Cisjordânia.

Assentos vazios da delegação israelense são vistos na Conferência Internacional de Alto Nível para a Solução Pacífica da Questão da Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados, na sede da ONU em Nova York, em 22 de setembro de 2025. (Xinhua/Li Rui)

O QUE VEM A SEGUIR?

A nova onda de reconhecimento do Estado Palestino é vista como amplamente simbólica e dificilmente terá um efeito imediato na realidade local, já que a Assembleia Geral da ONU só pode conceder a adesão plena com a aprovação do Conselho de Segurança, uma medida que os EUA provavelmente vetariam.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Levitt, disse que o presidente dos EUA, Donald Trump, acredita que reconhecer um Estado Palestino não ajudará a acabar com conflitos e guerras. "Ele vê isso como uma recompensa para o Hamas", disse Levitt.

O Instituto Real de Serviços Unidos (RUSI, na sigla em inglês), com sede em Londres, argumentou que o reconhecimento fortalece a posição diplomática da Palestina ao tratar a condição de Estado como o ponto de partida para as negociações, e não como uma recompensa no final.

Outra consequência é o aumento do abismo entre os EUA e seus aliados tradicionais na Europa. O Fundo Marshall Alemão dos Estados Unidos (GMF, na sigla em inglês) observou que a clara divisão transatlântica sobre a questão "apenas reforçará a tendência negativa das atitudes públicas europeias em relação aos Estados Unidos".

"Estamos vendo alianças mudando: Israel e EUA se opõem à maioria das nações europeias", disse Karim Amellal, ex-embaixador da França no Mediterrâneo, ao Politico Europe. A dinâmica atual ressaltará ainda mais o isolamento dos EUA e de Israel, acrescentou ele.

Pessoas inspecionam carro queimado por colonos israelenses na cidade de Hebron, na Cisjordânia, em 22 de setembro de 2025. (Foto por Mamoun Wazwaz/Xinhua)