Pessoas visitam área de exposição da Mercedes-Benz no Open Space do IAA Mobility 2025 em Munique, Alemanha, em 11 de setembro de 2025. (Xinhua/Zhang Fan)
As montadoras europeias estão divididas sobre a proibição de carros a gasolina e diesel pela UE até 2035, com algumas defendendo atrasos ou políticas mais flexíveis devido a desafios como lacunas tecnológicas, concorrência e impacto econômico, enquanto outras pressionam por uma transição mais rigorosa para veículos elétricos para manter a competitividade global.
Berlim, 26 set (Xinhua) -- As montadoras europeias continuam divididas sobre a transição da UE para veículos elétricos (EVs), com executivos alertando que cronogramas rígidos de políticas podem minar a competitividade da Europa em motores de combustão interna.
Ao promoverem ativamente seus novos modelos elétricos no Salão Internacional do Automóvel da Alemanha 2025 (IAA Mobility), em Munique, concluído no início deste mês, executivos de algumas montadoras também pediram um adiamento da proibição planejada pela UE para 2035 de novos carros a gasolina e diesel.
Diante da concorrência acirrada, as montadoras europeias precisam agir com cautela para manter um equilíbrio sutil entre as ambiciosas metas climáticas da UE e as realidades do mercado, disseram analistas.
RESISTÊNCIA DA INDÚSTRIA
As ambiciosas metas de redução de dióxido de carbono da UE não são mais viáveis, argumentaram as duas principais associações automotivas da Europa, a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis e a Associação Europeia de Fornecedores de Automóveis, em uma carta conjunta à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em agosto, pedindo uma abordagem mais pragmática que reflita as realidades industriais e geopolíticas.
A questão ganhou atenção renovada na IAA Mobility, durante a qual o chanceler alemão Friedrich Merz expressou apoio aos esforços de eletrificação da indústria, enfatizando a importância da flexibilidade regulatória, alertando contra a imposição política de um único caminho tecnológico e pedindo para a indústria continuar aberta a outras tecnologias para equilibrar a competitividade com a proteção climática.
Executivos da Mercedes-Benz, BMW e Stellantis descreveram a proibição planejada pela UE para 2035 da venda de novos carros a gasolina e diesel como “irrealista”, apelando para o desenvolvimento contínuo de híbridos, veículos elétricos com autonomia estendida e motores de combustão menores.

Pessoas passam pela área pública no Open Space da IAA Mobility 2025 em Munique, Alemanha, 11 de setembro de 2025. (Xinhua/Zhang Fan)
O desempenho de mercado do setor até agora ressaltou o desafio. Os veículos elétricos de primeira geração, incluindo a série ID da Volkswagen, o Audi e-tron, o Mercedes EQ e a série i da BMW, enfrentaram adoção limitada por parte do consumidor, prejudicada por restrições de autonomia, carregamento lento, deficiências de design e preços mais altos do que veículos a combustão comparáveis.
Como resultado, vários fabricantes estão revisando suas estratégias. A Mercedes-Benz adiou sua meta de atingir 50% das vendas de veículos elétricos até 2025 e planeja continuar atualizando os motores de combustão interna na próxima década. A Audi suspendeu seu plano de eletrificação completa até 2032. O presidente do Grupo Volkswagen, Oliver Blume, destacou a desaceleração das vendas de veículos elétricos e pediu ajustes nas metas de dióxido de carbono, enquanto o ex-CEO da Renault, Luca de Meo, tem repetidamente defendido cronogramas mais flexíveis e alinhados ao mercado.
MÚLTIPLOS DESAFIOS
A Europa enfrenta múltiplos desafios em sua transição automotiva.
O setor de baterias da região está em dificuldades. A startup sueca Northvolt, antes um empreendimento de alto perfil apoiado pela BMW, Volkswagen e outros investidores, entrou com pedido de falência no final de 2024. Seu fracasso evidenciou as persistentes lacunas da Europa em tecnologia de baterias, cadeias de suprimentos e capacidade de produção nacional.
Mudanças de política aumentaram a pressão. A Alemanha encerrou os subsídios à compra de veículos elétricos em 2023, enfraquecendo o maior mercado da Europa. As principais montadoras relataram queda nos lucros e o setor cortou cerca de 51.500 empregos no ano passado, quase 7% da força de trabalho.
Desafios estruturais agravaram as dificuldades. A infraestrutura de carregamento permanece desigual entre os Estados-membros da UE, os custos da eletricidade são altos, as despesas de produção continuam aumentando e as tarifas americanas têm pesado sobre as exportações. Juntos, esses fatores tornaram o impulso para a eletrificação rápida um desafio significativo para os fabricantes europeus.
A pressão política está se intensificando. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, condenou a proibição como “autodestrutiva”, alertando para consequências sociais e econômicas. A Polônia e outros países expressaram preocupações semelhantes.
Especialistas dizem que a cautela da indústria automobilística da UE reflete dificuldades realistas resultantes da pressão da concorrência, lacunas tecnológicas e preocupações com o emprego.
DEBATE POLÍTICO
Algumas montadoras europeias têm defendido uma abordagem multitecnológica. A Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis recomenda incentivos como subsídios, isenções fiscais e descontos no consumo de eletricidade para impulsionar a adoção de veículos elétricos. Embora se espere que os veículos elétricos dominem a longo prazo, alternativas de baixo carbono continuam sendo necessárias durante a transição.

Pessoas visitam área de exposição da Volkswagen no IAA Mobility 2025 em Munique, Alemanha, em 9 de setembro de 2025. (Xinhua/Zhang Fan)
Outras empresas, incluindo a Volvo e alguns fabricantes industriais, apoiam a proibição de novos carros a gasolina e diesel pela UE até 2035, considerando isso essencial para manter a competitividade global da Europa. O CEO da Kia Europa, Marc Hedrich, alertou contra reversões de política, observando que a produção do EV4 começou na Eslováquia, com conformidade total prevista para 2035.
O especialista automotivo alemão, Ferdinand Dudenhoeffer, considerou a oposição à proibição amplamente desnecessária, dizendo que, conforme os preços dos veículos elétricos convergem com os dos veículos a combustão e os impostos sobre o carbono entram em vigor, os carros a gasolina e diesel inevitavelmente perderão seu apelo. Ele previu que a paridade de preços seria alcançada até 2030, amenizando grande parte da controvérsia sobre a proibição.
Em um diálogo estratégico presidido por von der Leyen em 12 de setembro, os fabricantes pediram mais flexibilidade nas metas de dióxido de carbono, enquanto a UE reafirmou o cronograma de 2035. Em março, as avaliações de carbono para carros novos foram adiadas de 2025 para 2027 para fornecer uma margem de transição. Críticos argumentam que isso poderia recompensar empresas atrasadas e enfraquecer a competitividade geral.
Especialistas dizem que a proibição da UE de novos carros a gasolina e diesel até 2035 é tanto uma meta industrial quanto um teste à liderança climática do bloco. Manter a meta pode estimular a inovação, enquanto concessões podem aliviar as pressões de curto prazo.


