Parceria entre Xinhua e Brasil 247

Líderes mundiais pedem solução de dois Estados na Assembleia Geral da ONU em meio a incertezas para a paz no Oriente Médio

26 de setembro de 20256 min de leitura
Líderes mundiais pedem solução de dois Estados na Assembleia Geral da ONU em meio a incertezas para a paz no Oriente Médio

O secretário-geral da ONU, António Guterres, discursa na cerimônia de abertura do Debate Geral da 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), na sede da ONU em Nova York, em 23 de setembro de 2025. (Xinhua/Li Rui)

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse no primeiro dia do debate geral que "em Gaza, os horrores estão se aproximando de um terceiro ano monstruoso", destacando "uma escala de morte e destruição maior do que qualquer outro conflito" em seus anos como secretário-geral.

Por Xia Lin

Nações Unidas, 23 set (Xinhua) -- Líderes de todo o mundo se reuniram em Nova York na terça-feira para o Debate Geral da 80ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em apoio à criação do Estado Palestino, mas enfrentando a oposição de Israel e dos Estados Unidos, enquanto a Faixa de Gaza se aproxima da marca de dois anos de uma guerra que causou muitas vítimas, destruição e fome.

UMA VOZ COLETIVA

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse no primeiro dia do debate geral que "em Gaza, os horrores estão se aproximando de um terceiro ano monstruoso", destacando "uma escala de morte e destruição maior do que qualquer outro conflito" em seus anos como secretário-geral.

Ele pediu a implementação plena e imediata das medidas do Tribunal Internacional de Justiça, um cessar-fogo permanente, a libertação de todos os reféns e o acesso humanitário, acrescentando que "não devemos ceder na única resposta viável para uma paz sustentável no Oriente Médio: uma solução de dois Estados".

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, condenou os ataques terroristas do Hamas em seus comentários na terça-feira, observando que o direito internacional humanitário e o mito do excepcionalismo ocidental foram soterrados sob os escombros, e a sobrevivência do povo palestino exige um Estado independente.

O presidente indonésio, Prabowo Subianto, reiterou o total apoio de seu país à solução de dois Estados, apelando para que tanto a Palestina quanto Israel sejam livres e independentes, seguros e protegidos de ameaças e terrorismo. A Indonésia está pronta para enviar 20.000 ou mais pessoas para ajudar a garantir a paz em Gaza ou em qualquer outro lugar e, este ano, além da autossuficiência, exportou arroz para outras nações necessitadas, incluindo a Palestina, disse ele.

O rei Abdullah II da Jordânia disse que a segurança só virá quando Palestina e Israel começarem a coexistir lado a lado. "Esta é a solução de dois Estados, em conformidade com o direito internacional e as resoluções da ONU: um Estado Palestino independente e viável, com Jerusalém Oriental como sua capital, ... ao lado de um Israel seguro, ... vivendo em paz com seus vizinhos", observou ele.

"Reafirmamos nosso apoio à solução de dois Estados, com a ONU desempenhando um papel central. O Cazaquistão reconhece as iniciativas diplomáticas com foco na reconciliação regional no Oriente Médio", disse o presidente cazaque, Kassym-Jomart Tokayev.

"Não podemos ignorar o profundo agravamento da crise humanitária na Faixa de Gaza. Apelamos à cessação imediata das hostilidades e ao seguimento das negociações políticas", disse o presidente uzbeque, Shavkat Mirziyoyev, acrescentando que "em consonância com as resoluções da ONU, continuamos firmes defensores do princípio da solução de dois Estados".

Foto tirada na estrada costeira Rashid a oeste da Cidade de Gaza mostra jovem palestino do norte da Faixa de Gaza fugindo para o sul em meio à operação militar israelense em larga escala na Cidade de Gaza, em 18 de setembro de 2025. (Foto por Rizek Abdeljawad/Xinhua)

INCERTEZAS POR VIR

Em seu discurso na manhã de terça-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, adotou um tom diferente, pedindo ação imediata em Gaza. "Libertem os reféns agora, só os libertem agora mesmo", disse ele, acrescentando que "precisamos negociar a paz, resgatar os 20 reféns e os 38 cadáveres". Enquanto isso, ele alertou contra o reconhecimento unilateral de um Estado Palestino, afirmando que isso equivaleria a "uma recompensa ao Hamas por suas atrocidades".

Uma cúpula organizada pela França e pela Arábia Saudita na segunda-feira, antes do debate geral em Nova York, foi retratada como um esforço urgente para proteger a visão, há muito adiada, de uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino.

No entanto, enquanto Israel continua sua ofensiva na Cidade de Gaza contra o Hamas e expande rapidamente seus assentamentos na Cisjordânia, a ideia parece mais distante do que nunca.

"Devemos abrir caminho para a paz", disse o presidente francês, Emmanuel Macron, na segunda-feira, sob aplausos dos presentes na reunião e aplausos de pé da delegação palestina. "Hoje, a França reconhece o Estado Palestino", disse ele, observando declarações recentes de reconhecimento, algumas ainda não formalizadas, por parte do Reino Unido, do Canadá, da Austrália, de Portugal, da Bélgica e de vários outros países.

"França, Reino Unido e os outros países que reconheceram um Estado Palestino esta semana dizem que pretendem proteger qualquer esperança restante na fórmula apoiada internacionalmente para acabar com o conflito de meio século entre israelenses e palestinos: um estado judeu de Israel em paz com um Estado Palestino vizinho", relatou o jornal americano The New York Times na segunda-feira.

"Mas, quase dois anos após o início da guerra devastadora na Faixa de Gaza, israelenses e palestinos afirmam que a possibilidade de uma solução de dois Estados parece mais remota do que nunca", observou o jornal.

Em 12 de setembro, a Assembleia Geral adotou por ampla margem a "Declaração de Nova York", que pedia por "uma paz justa e duradoura, fundamentada no direito internacional e na solução de dois Estados". Para acabar com a guerra, a Assembleia Geral pedi que o Hama "encerre seu papel em Gaza e entregue suas armas à Autoridade Palestina". Os Estados Unidos e Israel votaram contra o texto.

No domingo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que "um Estado Palestino não será estabelecido a oeste do Rio Jordão".

A ideia de estabelecer uma nação para cada população judaica e palestina, vivendo lado a lado em paz, antecedeu a fundação da ONU em 1945. Elaborado e reformulado desde então, o conceito apareceu em dezenas de resoluções do Conselho de Segurança da ONU, em várias negociações de paz e na 10ª sessão especial de emergência da Assembleia Geral, recentemente retomada.

Na terça-feira, Guterres alertou que a viabilidade de uma solução de dois Estados está se deteriorando constantemente, atingindo agora seu nível mais crítico em mais de uma geração, em declaração em uma reunião de alto nível do Conselho de Segurança da ONU sobre a questão palestina, destacando a expansão implacável dos assentamentos, a anexação de fato e o deslocamento forçado como evidências dessa erosão.

"Ciclos de violência mortal, inclusive por colonos extremistas, consolidaram uma ocupação israelense ilegal e nos empurraram perigosamente para perto de um ponto sem volta", acrescentou ele.