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Cúpula do G20 em Joanesburgo visa construir consenso do Sul Global sobre governança global

23 de novembro de 20256 min de leitura
Cúpula do G20 em Joanesburgo visa construir consenso do Sul Global sobre governança global

Foto tirada em 17 de novembro de 2025 mostra local da 20ª Cúpula do Grupo dos 20 (G20) em Joanesburgo, África do Sul. (Foto por Shiraaz Mohamed/Xinhua)

Lemmy Nyongesa Mulaku, professor de estudos internacionais da Universidade de Nairóbi, disse: "A cúpula do G20 é uma oportunidade para uma parceria mais forte entre a China e a África, não apenas para impulsionar soluções de adaptação climática, mas também para consolidá-las nas instituições e estruturas de governança global".

Joanesburgo, 21 nov (Xinhua) -- A Cúpula de Líderes do G20 será realizada neste fim de semana em Joanesburgo, África do Sul, a primeira vez em solo africano.

Sob o tema "Solidariedade, Igualdade, Sustentabilidade", a cúpula destaca o momento para a África, que busca ampliar sua voz na governança global e promover prioridades de desenvolvimento compartilhadas pelo Sul Global.

Observadores dizem que o evento reflete a crescente influência da África e a expectativa da comunidade internacional de que a China e outros membros do Sul Global ajudem a construir consenso sobre multilateralismo e desenvolvimento inclusivo.

DESTA VEZ PARA A ÁFRICA

A entrada da União Africana no G20 em 2023 foi celebrada em todo o continente como um "momento africano". Agora, com a Cúpula do G20 chegando à África pela primeira vez, analistas dizem que isso sinaliza uma mudança histórica: os países africanos estão passando de participantes passivos a contribuintes ativos na definição das agendas globais.

Alvin Botes, vice-ministro das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, disse: "Estamos trabalhando em estreita colaboração com a União Africana para amplificar a voz da África na governança econômica global, garantindo que as prioridades de desenvolvimento do continente africano e do Sul Global sejam firmemente incorporadas à agenda do G20".

Desde que assumiu a presidência do G20 no ano passado, a África do Sul tem buscado orientar a cúpula para o avanço da agenda de desenvolvimento do Sul Global, especialmente dos países africanos, e identificou quatro prioridades: fortalecer a resiliência e a resposta a desastres; tomar medidas para garantir a sustentabilidade da dívida dos países de baixa renda; mobilizar financiamento para uma transição energética justa; e aproveitar os minerais críticos para o crescimento inclusivo e o desenvolvimento sustentável.

Momar Diongue, diretor-geral da Agência de Notícias Senegalesa, disse: "O G20 ser realizado pela primeira vez no continente africano é algo muito simbólico, mas também estratégico: coloca nossas prioridades econômicas no centro das discussões globais".

Ele acrescentou que, graças à integração regional, "a África está se tornando uma força motriz na formulação de propostas".

Peter Kagwanja, diretor-executivo do Africa Policy Institute, um think tank no Quênia, disse: "A crescente participação da África nos processos globais de tomada de decisão marca uma transformação significativa no sistema internacional, onde países do Sul Global, antes marginalizados e excluídos de discussões essenciais, como as focadas em reformas financeiras, sustentabilidade da dívida e mudanças climáticas, agora afirmam sua voz e influência com ousadia e participam plenamente da solução desses desafios".

MOMENTO SUL-SUL

Em meio a rápidas mudanças nunca vistas em um século, crescimento econômico global lento e um déficit de desenvolvimento crescente, os países africanos enfrentam choques climáticos, dívidas crescentes e outras pressões. Especialistas africanos disseram que a cúpula de Joanesburgo ajudará a promover a cooperação, apoiar o desenvolvimento da África e oferecer uma "perspectiva africana" para enfrentar os desafios globais.

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, considerou a cúpula deste ano uma oportunidade para colocar as necessidades da África e do restante do Sul Global de forma mais firme na agenda internacional de desenvolvimento.

"Esperamos que a cúpula assuma um compromisso político para abordar as vulnerabilidades da dívida nos países de baixa e média renda", disse ele, acrescentando que esperava que o consenso alcançado no evento incluísse "um compromisso para fortalecer ainda mais a implementação da Estrutura Comum do G20 para o Tratamento da Dívida de maneira previsível, oportuna e coordenada".

Lemmy Nyongesa Mulaku, professor de estudos internacionais da Universidade de Nairóbi, disse: "A cúpula do G20 no continente é uma oportunidade para iniciar reformas genuínas com o objetivo de reequilibrar essas relações por meio da reforma de instituições de governança global, como o Banco Mundial, o FMI e a OMC".

"A cúpula do G20 é uma oportunidade para uma parceria mais forte entre a China e a África, não apenas para impulsionar soluções de adaptação climática, mas também para consolidá-las nas instituições e estruturas de governança global", disse ele.

Observadores notam que a África fez progressos significativos na transição verde e na economia digital. Como disse David Mugisha Begumya, professor da Universidade Internacional da África Oriental, em Uganda, a África possui um enorme potencial para enfrentar os desafios climáticos globais, tornando-se uma fornecedora crescente de soluções verdes.

REFORMA DA GOVERNANÇA GLOBAL

Em um momento em que a reforma da governança global está em um dilema, garantir que os países em desenvolvimento participem em igualdade de condições nas principais tomadas de decisão sobre governança global é fundamental para uma governança justa e eficaz.

A China tem sido "a maior e fundamental apoiadora" da promoção de uma ordem internacional mais justa e equitativa, disse Yarbane Kharrachi, assessor do ministro do ensino superior e da investigação científica da Mauritânia, referindo-se ao apoio inicial de Beijing à adesão da União Africana ao G20.

Antes da cúpula, os Estados Unidos anunciaram sua decisão de não participar no evento e alertaram a África do Sul contra a pressão por uma declaração conjunta.

"A política de boicotes nunca funciona", respondeu Ramaphosa. "Se boicotar um evento ou um processo, perde, porque o espetáculo continua".

Analistas africanos observam que isso destaca, mais uma vez, a urgência da reforma da governança global. A firme posição da África do Sul, dizem eles, reflete a determinação dos países do Sul Global em pressionar por um sistema de governança global mais justo e substituir o domínio unilateral pela cooperação multilateral.

A China contribui com seu capital cultural e intelectual singular, oferecendo perspectivas alternativas sobre governança global e desenvolvimento, disse David Monyae, diretor do Centro de Estudos África-China da Universidade de Joanesburgo.

"Essa abordagem incorpora o princípio de que todas as civilizações são iguais, um princípio que deve guiar a África e outros países do Sul Global na construção colaborativa de agendas de desenvolvimento e governança", disse ele.