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Brasil pede que COP30 seja "a conferência da adaptação" diante do avanço da crise climática

25 de outubro de 20254 min de leitura

Rio de Janeiro, 24 out (Xinhua) -- A presidência brasileira da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) publicou sua oitava carta à comunidade internacional na quarta-feira, conclamando os países a colocarem a adaptação no centro da agenda global como um passo decisivo na evolução humana e na sobrevivência coletiva.

No texto intitulado "Um ponto de virada para a adaptação", o presidente indicado da COP30, André Aranha Corrêa do Lago, argumenta que "a era dos alertas deu lugar à era das consequências" e que a adaptação não é mais uma opção secundária em relação à mitigação, mas uma condição essencial para a vida. "A adaptação climática é o primeiro passo para a nossa sobrevivência", afirma.

Do Lago enfatiza que a cooperação, essencial para a evolução humana, deve voltar a ser o princípio organizador da resposta global à crise. Nesse sentido, ele lembrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu a COP30 como "a COP da verdade", onde a humanidade será testada em sua capacidade de deixar de lado as diferenças e agir diante de uma ameaça existencial.

Segundo o diplomata, o encontro, que será realizado em Belém em novembro de 2025, deverá se concentrar em três prioridades: fortalecer o multilateralismo, aproximar o regime climático do cotidiano das pessoas e acelerar a implementação dos acordos existentes. "A COP30 deve ser a COP da adaptação", enfatizou.

A carta alerta para "um precedente perigoso na evolução humana", no qual os ricos se isolam atrás de muros resistentes ao clima, enquanto os pobres permanecem expostos. Do Lago citou dados do Índice Global de Pobreza Multidimensional de 2025 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que mostra que 1,1 bilhão de pessoas vivem em pobreza extrema, mais da metade delas em regiões com alto risco climático.

"Sem adaptação, as mudanças climáticas se tornam um multiplicador da pobreza", afirma o documento, observando que os desastres climáticos custam à África entre 2% e 5% do seu PIB anual e que um único furacão pode destruir décadas de desenvolvimento em pequenos Estados insulares. O documento também alerta que os impactos na América Latina agravam as desigualdades e as vulnerabilidades sociais.

O documento enfatiza que o financiamento para adaptação continua insuficiente, representando menos de um terço do total do financiamento climático global. "O desequilíbrio entre mitigação e adaptação perpetua as desigualdades estruturais", observa. Segundo o Banco Mundial, cada dólar investido em medidas de adaptação pode gerar até quatro vezes o seu custo em benefícios econômicos.

Entre as soluções propostas, a presidência brasileira defende a combinação de instrumentos financeiros tradicionais com inovações como títulos soberanos de resiliência, swaps de dívida por adaptação, seguros contra perdas e danos e mecanismos de financiamento baseados em resultados. Também incentiva os países desenvolvidos a aumentar a quantidade e a qualidade dos recursos alocados aos mais vulneráveis, argumentando que "financiar a adaptação é um investimento inteligente que gera estabilidade global".

Do Lago afirmou que 144 países em desenvolvimento já iniciaram seus Planos Nacionais de Adaptação (PANs) e que 67 deles, juntamente com 11 países desenvolvidos, os submeteram oficialmente à ONU. Em Belém, a reunião buscará concluir a avaliação do progresso desses planos, avançar no "Roteiro de Baku para Adaptação" e definir mecanismos concretos para atingir a Meta Global de Adaptação do Acordo de Paris.

"Adaptação não é caridade, é uma bússola moral e econômica", enfatizou o representante brasileiro, instando ministros da Fazenda e bancos de desenvolvimento a tratá-la como uma política central.

A presidência brasileira propõe que a agenda de ação da COP30 produza resultados tangíveis em setores-chave como saúde, segurança alimentar, água, infraestrutura, cidades e microempresas, para que a conferência "seja lembrada como a COP da implementação da adaptação".

"Em Belém, onde os rios encontram o mar, renovemos a aliança entre a humanidade e a natureza, transformando vulnerabilidade em solidariedade, cooperação em resiliência e adaptação em evolução", conclui a carta.