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Advogado japonês faz campanha pelas vítimas chinesas da agressão japonesa durante guerra há mais de 30 anos

20 de setembro de 20255 min de leitura
Advogado japonês faz campanha pelas vítimas chinesas da agressão japonesa durante guerra há mais de 30 anos

Li Chen (centro), vítima de arma química abandonada no Japão, conversa com Norio Minami (direita), advogado japonês, durante audiência em Harbin, capital da província de Heilongjiang, no nordeste da China, em 29 de abril de 2014. (Xinhua/Wang Song)

Tóquio, 19 set (Xinhua) – "Perdemos o caso no tribunal, mas conquistamos a verdade histórica", disse o advogado japonês Norio Minami, que defende as vítimas de armas químicas abandonadas na China durante a Segunda Guerra Mundial por agressores japoneses, em entrevista recente à Xinhua em Tóquio.

Minami faz parte de um grupo de advogados japoneses que auxilia vítimas chinesas a processar o governo japonês há mais de 30 anos. Essa equipe jurídica foi criada em 1995 e, desde então, cresceu para incluir aproximadamente 500 advogados.

Desde então, Minami e seus colegas representam vítimas chinesas em uma série de processos judiciais contra o governo japonês e empresas relacionadas, envolvendo crimes históricos como o Massacre de Nanjing, a Unidade 731, as "mulheres de conforto", o trabalho forçado, o Massacre de Pingdingshan e as armas químicas abandonadas.

Embora alguns processos tenham conquistado vitórias parciais em tribunais locais e superiores, todos terminaram em derrota na Suprema Corte. "A razão fundamental disso está na relutância do governo japonês em reconhecer a vitimização, enquanto a sociedade japonesa também não reconheceu e refletiu adequadamente sobre essa parte da história", disse Minami.

No entanto, perder o processo não significa que a verdade foi perdida.

Norio Minami, advogado japonês, é entrevistado pela Xinhua durante audiência para vítimas de armas químicas abandonadas pelo Japão em Harbin, capital da província de Heilongjiang, no nordeste da China, em 29 de abril de 2014. (Xinhua/Wang Song)

Minami acredita que os esforços dos advogados não foram em vão. "Esses processos revelaram os crimes cometidos pelo então Exército Imperial Japonês e mostraram o pesado fardo que as vítimas carregaram ao longo de suas vidas. Esses fatos foram confirmados em todos os casos", disse ele.

"Vencemos os fatos em si, e isso é uma enorme conquista. Os fatos históricos reconhecidos pelos tribunais (japoneses) tornaram-se um registro indelével", acrescentou ele.

Por exemplo o processo movido contra o Japão em 1996 por três sobreviventes do Massacre de Pingdingshan, incluindo Mo Desheng. Embora a ação dos autores tenha sido rejeitada, o veredito estabeleceu claramente a ocorrência do massacre: "O exército japonês forçou quase todos os moradores da vila de Pingdingshan a se deslocarem para o sopé de um penhasco a sudoeste da vila, onde abriram fogo indiscriminadamente com metralhadoras e outras armas, e então esfaquearam os sobreviventes com baionetas, matando a maioria dos moradores. No dia seguinte, o exército japonês, em conluio com funcionários da mina de carvão de propriedade japonesa, recolheu os restos mortais das vítimas ao pé do penhasco e os queimou, explodindo a parede do penhasco para enterrar os corpos".

Representantes do grupo de advogados que apoiam vítimas de armas de gás venenoso e da Fundação Chinesa para o Desenvolvimento dos Direitos Humanos participam da cerimônia de inauguração do "Fundo para a Paz Futura Japão-China" em Tóquio, Japão, em 14 de agosto de 2015. (Xinhua/Zhu Chao)

Em 2014, a ação movida pelas vítimas das bombas de gás venenoso abandonadas pelos invasores japoneses em Qiqihar, província de Heilongjiang, e Dunhua, província de Jilin, foi rejeitada. No entanto, os advogados continuaram sua busca e agora estão se voltando para outra batalha: exigir que o governo japonês divulgue um grande número de arquivos e materiais ocultos relacionados às bombas de gás venenoso.

"O governo japonês sempre tenta encobrir a questão das bombas de gás venenoso. Descobrimos que quase todas as informações sobre essas bombas foram completamente ocultadas". Minami disse que os advogados compilaram mais de 300 provas, que foram comparadas uma a uma com os motivos do governo para a "não divulgação" e levantaram questões. Atualmente, eles estão solicitando ao tribunal a divulgação completa.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os militaristas japoneses produziram secretamente uma grande quantidade de armas químicas e as utilizaram na guerra de agressão contra a China, violando o direito internacional, com até 1.241 casos documentados. Na véspera de sua derrota em 1945, os invasores japoneses enterraram ou abandonaram grandes quantidades dessas armas para encobrir seus crimes. Essas armas ainda representam uma séria ameaça e risco à vida e à propriedade de pessoas em regiões relevantes da China, assim como ao meio ambiente, até hoje.

De acordo com estatísticas incompletas, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, as armas químicas japonesas abandonadas causaram a morte de mais de 2.000 chineses.

"A fabricação e o uso de gás venenoso pelos militares japoneses para prejudicar o povo chinês foram essencialmente um ato de agressão, e o abandono das armas químicas foi precisamente para encobrir seus crimes", disse Minami.

Funcionários se preparam para destruir armas em Mudanjiang, província de Heilongjiang, nordeste da China, em 10 de abril de 2015. (Xinhua/Zhang Chunxiang)

De acordo com as disposições da Convenção sobre Armas Químicas, o Japão deveria concluir a destruição de suas armas químicas abandonadas até 2007. No entanto, devido à falta de atenção e ao investimento inadequado, o Japão tem perdido repetidamente os prazos, e o descarte de suas armas químicas abandonadas tem sido seriamente atrasado.

Minami disse: "Independentemente do tempo que leve para descartar as armas químicas abandonadas, o Japão deve ser totalmente responsável por todo o processo".

Olhando para o futuro, Minami disse que os advogados estão organizando materiais em vídeo e registros de entrevistas de vítimas da invasão japonesa à China e planejam transformá-los em vídeos e publicá-los nas redes sociais, para que mais jovens entendam a verdade da história.

"Não há vencedores na guerra, quem prejudica os outros também prejudicam a si mesmos. Espero que os jovens (no Japão) percebam os profundos desastres que as agressões lançadas pelo Japão no passado causaram ao povo chinês, e não devemos permitir que essas guerras se repitam. Isso não é apenas pelo bem dos outros, mas também pelo próprio Japão", disse Minami.