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Acordo de Gaza trará cessar-fogo permanente e abrangente?

13 de outubro de 20255 min de leitura
Acordo de Gaza trará cessar-fogo permanente e abrangente?

Foto tirada em 1º de setembro de 2025 mostra tendas para palestinos deslocados na Cidade de Gaza. (Foto por Rizek Abdeljawad/Xinhua)

O Hamas e Israel chegaram a um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza na quinta-feira. Analistas o descreveram como "um passo positivo que interrompe os combates e limita mais destruição e mortes", mas alertaram que questões-chave continuam sem resposta e que grandes desafios estão por vir.

Gaza, 10 out (Xinhua) -- Após dois anos de sofrimento e angústia, o Hamas e Israel chegaram a um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza na quinta-feira, que entrou em vigor na sexta-feira, após a aprovação da resolução pelo governo israelense.

A primeira fase do plano de paz, alcançada após três dias de intensas negociações mediadas por Egito, Catar, Turquia e Estados Unidos, inclui a retirada israelense da Cidade de Gaza, do norte, de Rafah e Khan Younis, a abertura de cinco passagens para a entrada de ajuda humanitária e a libertação de reféns e prisioneiros.

Apesar do avanço, analistas alertaram que o acordo deixou questões-chave sem resposta, incluindo se o Hamas se desarmará e quem governará o enclave.

HAMAS ASSINALA OBSTÁCULO ISRAELENSE

Líderes do Hamas acusaram o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de dificultar a implementação do cessar-fogo.

O líder sênior do Hamas, Abdul Rahman Shadid, disse que o movimento de resistência palestino "respondeu positivamente e com responsabilidade nacional" ao plano de paz, mas disse que Netanyahu "vem criando novos obstáculos, especialmente em relação à questão dos prisioneiros".

Outro representante do Hamas, Mahmoud Mardawi, disse que Netanyahu estava "tentando minar o acordo alterando as listas de prisioneiros", acrescentando que essas ações "revelam suas reais intenções em relação às questões pendentes de retirada, reconstrução e reabertura das travessias".

Como parte do acordo, Israel libertará 1.700 prisioneiros palestinos em troca de 48 reféns em cativeiro em Gaza.

O porta-voz do Hamas, Hazem Qassem, pediu aos mediadores que "pressionem Israel a aderir aos termos acordados", alertando que qualquer violação "prejudicaria os esforços internacionais e regionais para acabar com a guerra".

Palestinos se reúnem após anúncio de que Israel e o Hamas concordaram com um acordo de cessar-fogo em Gaza, em frente à sede do comitê egípcio em Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza, em 9 de outubro de 2025. (Foto por Rizek Abdeljawad/Xinhua)

PERSPECTIVA POSITIVA, MAS CAUTELOSA

O analista político palestino Ghassan al-Khatib disse à Xinhua que o acordo é "um passo positivo que interrompe os combates e limita mais destruição e mortes", acrescentando que poderia servir como "base para a reconstrução e o alívio do sofrimento dos moradores de Gaza".

"O acordo surge após uma guerra longa e custosa, o que o torna mais sério do que os entendimentos anteriores", disse ele, observando que a mediação internacional traz "uma chance maior de sucesso se implementado com cuidado".

Ele disse que os moradores de Gaza "precisam desesperadamente de estabilidade que permita a restauração dos serviços básicos, incluindo saúde e educação", o que "não pode ser alcançado sem o total comprometimento de Israel em interromper as operações militares e aliviar as restrições à circulação e ao comércio".

Al-Khatib acrescentou que o acordo "poderia abrir caminho para a retomada do processo político israelo-palestino" se seguido por medidas concretas, como a reabertura de passagens de nível e a permissão para a entrada de materiais de construção em Gaza, sob a supervisão das Nações Unidas e da Autoridade Palestina.

Israelenses comemoram após anúncio de que Israel e o Hamas concordaram com um acordo de cessar-fogo em Gaza, em Tel Aviv, Israel, em 9 de outubro de 2025. (Xinhua/Chen Junqing)

FATORES QUE AFETAM A PAZ DURADOURA

Observadores disseram que o acordo precisa de prazo claro ou do fim total das hostilidades, semelhante ao cessar-fogo de janeiro, que fracassou após dois meses.

O analista político Esmat Mansour, de Ramala, disse que o mais recente acordo de paz é "uma fase de teste", refletindo a vontade regional e internacional de encerrar a guerra e iniciar uma nova fase que poderia promover a estabilidade, observando que a participação de todas as principais partes "reduz o risco de uma nova escalada".

"Ambos os lados agora têm motivos para manter a calma", disse ele. "Israel busca o retorno de seus prisioneiros, enquanto o Hamas quer interromper a destruição e iniciar a reconstrução".

O analista político Mustafa Ibrahim, baseado em Gaza, alertou que, apesar do otimismo, os desafios permanecem.

"Há complicações técnicas, incluindo a identificação de listas de prisioneiros e a localização dos corpos de reféns", observou ele. "A ausência de garantias internacionais vinculativas pode levar a novas ações militares".

Ibrahim alertou que "Israel pode recorrer a ataques limitados sob o pretexto de manter o controle da segurança", ameaçando o frágil cessar-fogo.

Ele disse que o "grande teste virá depois da troca de prisioneiros, pois o Hamas perderá uma carta de negociação importante, enquanto a questão de suas armas e governança de Gaza permanece sem solução".

Ibrahim também questionou se a Autoridade Palestina retornará a Gaza sob acordos justos e se Israel se retirará totalmente.

"A composição do atual governo israelense, que inclui partidos de extrema direita, dificulta a implementação do acordo até o fim".